quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Série de Textos: Psicoterapias

Texto 8:
Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte V

Descrevo nesse texto sobre o ultimo Grupo da classificação das Abordagens de Psicoterapias, o Grupo III : 

PSICOTERAPIAS DE ORIENTAÇÃO PSICANALÍTICA

A Psicanálise surgiu na década de 1890, por Sigmund Freud, que introduziu a ideia de “cura pela fala”. O método psicanalítico consiste na escuta da fala do paciente e interpretação das vivências e comportamentos. É criado um ambiente propício, livre de críticas e julgamentos, para que o paciente se sinta relaxado e seguro para expor tudo que lhe venha à mente: experiências, sonhos, esperanças, desejos, fantasias. O psicoterapeuta escuta e faz suas observações quando percebe o momento adequado para que o paciente tome consciência dos conteúdos que precisam ser esclarecidos.

O objetivo da Psicanálise é descobrir as necessidades, traumas, complexos e tudo aquilo que está “preso” no inconsciente dificultando o equilíbrio emocional, conscientizar o indivíduo dos motivos de seus comportamentos e/ou sintomas, promovendo maior qualidade de vida e compreensão de seus sentimentos e ações.

As abordagens psicanalíticas é uma psicoterapia de percurso, na medida em que o acompanhamento psicoterapêutico frequentemente se estende por vários anos e o psicoterapeuta acompanha a vida da pessoa, semana após semana, podendo observar as dinâmicas do seu funcionamento em múltiplas situações de vida e interações interpessoais.

Como funciona?

A Psicoterapia Psicanalítica é uma talking therapy, isto é, uma terapia pela fala.

O paciente disponibiliza-se a falar, de uma forma sincera e livre, sobre si próprio, sobre a sua situação de vida, acontecimentos do dia-a-dia, experiências emocionais, memorias, fantasias, história de vida, etc., e o terapeuta através do processo de escuta ativa e empática tenta encontrar padrões reveladores do funcionamento psicológico do paciente e interpretar esses mesmos padrões revelando-os ao paciente e dessa forma ajudando-o a conhecer-se melhor, a conhecer melhor o seu inconsciente e os seus mecanismos inconscientes. Para além deste trabalho de observação e acompanhamento a par e passo, a própria relação psicoterapêutica e o seu estudo feito em conjunto pelo par psicoterapeuta-paciente torna-se uma relação transformadora e geradora de novos modelos que têm um efeito potencialmente terapêutico.

A Psicoterapia Psicanalítica faz uso da transferência (fenómeno estudado por Freud, no qual, o paciente transfere para o psicoterapeuta emoções, expectativas, sentimentos, comportamentos, etc., que foram, em determinado período da vida, vividos com pessoas significativas da sua vida, por exemplo, pai ou mãe) como forma de projetar e recriar os conflitos psíquicos e os mecanismos defensivos inconscientes. Transferidos esses sentimentos são identificados, desvelados e analisados pelo psicoterapeuta. Progressivamente o paciente é levado a assumir responsabilidade sobre o seu funcionamento psicológico. O terapeuta faz uso de várias técnicas para atingir os seus objetivos terapêuticos, as principais são: clarificação, confrontação, interpretação, analise e interpretação da transferência e extra-transferenciais, sugestões, esclarecimentos, orientações (pouco), aconselhamento (pouco), auto revelação (pouco).

Bom estudo!

Rodrigo Lupes

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias

Texto 7:
Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte IV

Nesse texto descreverei as duas ultimas Abordagens Psicoterápicas do Grupo II:

A PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA TRANSPESSOAL

A Psicologia Transpessoal é uma ciência que estuda o ser humano em sua totalidade. A visão de mulher e homem não se reduz ao ser na sociedade, mas em suas relações cósmicas e ecológicas. A psicologia transpessoal envolve também a física, química, matemática, antropologia, sociologia, astronomia, metafísica e a medicina, tornado-se intercultural.

A psicologia transpessoal tem embasamentos na psicanálise, psicologia analítica (Junguiana), behaviorismo, psicologia humanista, e, especificamente estuda estados de consciência que transcendem a pessoa e o conceito do ego. Sendo assim, muito bem definida como o estudo científico de estados de consciência.

A psicologia transpessoal se faz em um modelo muito idêntico aos moldes quanta-relativístico da física moderna sub-atômica (Matos, 1978), no qual, estes procuram oferecer uma visão integrada da teoria de quantum e relatividade. O universo todo (matéria/energia) esta em constante mudança e é indivisível, sendo uma entidade dinâmica. Capra (1975) diz:

“Na física moderna, o universo é então experienciado como um todo dinâmico e inseparável que sempre inclui o observado de uma maneira essencial. Nesta experiência os conceitos tradicionais de espaço e tempo, de objetos isolados, e causa e efeito, perdem o seu sentido.”

A Psicologia Transpessoal é tão remota quanto a humanidade, e este “approach” cósmico para o entendimento do homem já era exercitado a mais de 5000 anos pelas civilizações pré-colombianas da América, na Índia, no Tibete e pelos antigos egípcios.

A Psicologia Transpessoal, no ocidente, foi constituída por um grupo de cientistas que perceberam a grande importância para o ramo da ciência do comportamento humano estudar e colocar em prática vários níveis de consciência, ocupando-se do estudo científico empírico, e da implementação responsável de descobertas científicas proeminentes para: meta-necessidade (sociais e individuais), caminhos espirituais, consciência unitiva, valores supremos, experiências de topo, êxtase, valores-B, experiências místicas compaixão, bem-aventurança, essência, auto-atualização, o sentido final de tudo, unicidade, transcendência do “self” e do espírito, sinergia individual e total das espécies, consciência cósmica, sacralização da vida de cada dia, teorias e práticas de meditação, auto-humor cósmico, habilidade de desfrutar a vida de uma maneira positiva, fenômenos transcendentais, etc.

O processo da Psicoterapia Transpessoal, tendo por referencial o ‘spectrum’ total de níveis da consciência, mostra que a evolução humana ou o desenvolvimento psicológico ocorre em estágios de crescente integração e transcendência em direção à totalidade (Deus, Cosmos ou Atman).

O contexto da psicoterapia pode ser visto como uma oportunidade para o homem ver e vivenciar o mundo transpessoalmente, isto é, além da mera identidade pessoal ou da história biográfica.

O processo psicoterapêutico transpessoal desenvolve-se então em duas etapas interligadas:

1) Crescimento Pessoal: 
.Representado pelas experiências da pessoa como entidade diferenciada;
.Requer trabalho de integração da personalidade individual em seus níveis, físico, emocional e mental. A personalidade deverá harmonizar-se e para que o Self possa estabelecer sua ação sobre a personalidade, temos que equilibrá-Ia e, assim colaborar para que o Self se integre.
.Meta: realização pessoal.

2) Crescimento Transpessoal:
.Representado pelas experiências do indivíduo como parte integrante de um “todo” maior. Essas experiências implicam na expansão da consciência além das limitações do ego e das limitações de tempo e espaço como são percebidas na consciência comum ou de vigília;
.O trabalho deste nível requer a desidentificação com as restrições da personalidade individual;
.Meta: auto-consciência.

Esses dois crescimentos, o pessoal e o transpessoal são vistos como distintos, mas não podem ser separados, ou seja, o trabalho de conexão entre a consciência pessoal e a transpessoal é fundamental quando o resultado que se espera é a integração total ou holística da pessoa. Holístico vem do grego Holos ­significa todo, inteiro.


A PSICOTERAPIA EXPERIENCIAL DE E. GENDLIN

Em 1957, Eugene Gendlin dá origem a teoria experiencial, primeiro, mostra a especificidade da psicoterapia existencial para, em seguida, apresentar sua compreensão do que seja a psicoterapia experiencial. A terapia existencial é uma terapia relacional, paciente e terapeuta, vivem para além das estruturas. As pessoas são existências, não definições. A busca das soluções entre o cliente e o seu terapeuta não está no passado nem no interior da pessoa, mas em viver radicalmente aberto às alternativas da existência.

Já a Psicoterapia Experiencial trabalha com algo mais concreto, isto é, não busca as emoções nem as palavras, mas sim se preocupa em explicitar “um sentimento direto da complexidade das situações e de suas dificuldades”.

Concluímos que Gendlin está preocupado em localizar, no ser humano, e trabalhar com isso, um aspecto pré-verbal da vivência. Logo, seu trabalho é com o pré-conceitual, o pré-verbal, o corporal, pois o que lhe provoca a mudança é ajudar o cliente a entrar em contato com essa realidade mais concreta, e não com as elaborações conceituais.
 
A teoria e prática de Gendlin estão inseridas nas chamadas pisco- corpo – terapias e na psicoterapia contemporânea.  Desde o início da psicanálise, a maioria das terapias era verbal. A palavra foi o veículo para trazer as memórias de experiência ou expressar emoções, usando a palavra para interpretar (psicanálise), utilizado para ação de condicionamento (behaviorismo) para a imagem guiada (cognitivismo, sonho dirigido) ou para o reflexo do sentimento (Rogers).

Os anos 70 foi uma recuperação do corpo para a psicologia e também para a psicoterapia. Poderíamos resumir em um slogan: "Além de a palavra é o corpo. E mais aquém da palavra, também é o corpo.” Mesmo tendo uma teoria da personalidade e cambio terapêutico, mas sempre com o corpo experimentado e analisado como ponto de referência da tarefa terapêutica.

Próximo e ultimo texto da série, descreverei sobre a Psicanálise que está inclusa no Grupo III da classificação das Abordagens.
 
Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias

Texto 6:

Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte III

Dando continuidade as Abordagens do Grupo II temos:

ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

 É uma abordagem das relações interpessoais desenvolvida pelo psicólogo americano Carl Rogers (1902-1987), um dos mais renomados psicólogos do século XX e um pioneiro na pesquisa científica em psicoterapia.

O pressuposto fundamental da Abordagem Centrada na Pessoa é que em todo indivíduo existe uma tendência atualizadora, uma tendência inerente ao organismo para crescer, desenvolver e atualizar suas potencialidades numa direção positiva e construtiva.

A hipótese central da abordagem centrada na pessoa é a de que o indivíduo possui dentro de si mesmo vastos recursos para a auto-compreensão e para alterar o seu auto-conceito, suas atitudes básicas e seu comportamento auto-dirigido, e estes recursos podem ser liberados se um clima definido de atitudes psicológicas facilitadoras puder ser oferecido.
Segundo Rogers, as atitudes psicológicas facilitadoras que promovem a liberação da tendência atualizadora são:

Congruência – Ser congruente em uma relação significa ser uma pessoa integrada, com a sua experiência real acuradamente representada em sua consciência. A pessoa está congruente quando ela está sendo livre e profundamente ela mesma, quando está vivenciando abertamente os sentimentos e atitudes que estão fluindo de dentro dela. Ser congruente, portanto, significa ser real e genuíno.

Consideração positiva incondicional – Ter uma experiência de consideração positiva incondicional em relação a outra pessoa significa aceitar calorosamente cada aspecto da experiência desta pessoa. Significa não colocar condições para a aceitação ou para a apreciação desta pessoa. A consideração positiva incondicional implica um cuidado não-possessivo, uma forma de apreciar o outro como uma pessoa individualizada a quem se permite ter os seus próprios sentimentos, suas próprias experiências.

Compreensão empática – Compreender empaticamente significa perceber acuradamente o quadro interno de referência da outra pessoa como se fosse o seu próprio, com os seus significados e componentes emocionais, sem, contudo, perder a condição de “como se”.

Segundo Rogers, estas condições promovem a atualização do indivíduo em qualquer relacionamento interpessoal, seja no relacionamento terapeuta e cliente, pai e filho, líder e grupo, professor e aluno, administrador e equipe, isto é, em qualquer situação cujo objetivo seja o desenvolvimento da pessoa. Por este motivo, o campo de aplicação da Abordagem Centrada na Pessoa é bastante amplo, incluindo as áreas da psicoterapia, educação, resolução de conflitos, relações familiares, grupos de encontro, grupos de crescimento e grandes grupos de comunidade. (do site do VI Fórum Brasileiro da ACP – Canela-RS – 2005)

"Sinto-me mais feliz simplesmente por ser eu mesmo e deixar os outros serem eles mesmos." (Carl Rogers)


ABORDAGEM GESTALT-TERAPIA


A Gestalt-Terapia que têm Perls como criador, apresenta-se como uma abordagem fenomenológico-existencial, ou seja, uma psicoterapia vivencial que ressalta a consciência do aqui-e-agora, através do foco de como o fenômeno nos é apresentado, muito mais do que no por quê. Perls coloca que antes de procurarmos as coisas que porventura estejam por detrás, melhor faremos se focalizarmos nossa atenção no que está ali, dado, presente, visível. Além de quê, nisto que está aí, neste óbvio, certamente também estão presentes elementos do que possa estar por detrás. A Gestalt-Terapia é uma atitude de re-descobrir aquilo que está ali, sem a priori, é uma atitude de lidar com o novo como novo, é uma atitude de nada afirmar nem negar.

Para a Gestalt, o homem sempre está em processo de desenvolvimento, sendo a noção de processo algo que está em permanente movimento, em constante mudança. Trabalhamos para promover o processo de crescimento e desenvolver o potencial humano, a tentativa é de ampliar este potencial, através do processo de integração. Assim, integrando as partes conhecidas e desconhecidas, partes que aceitamos e negamos em nós mesmos, vamos nos tornando aquilo que realmente somos, e consequentemente, a vida flui de forma mais saudável. “Nós fazemos isso apoiando os interesses, desejos, e necessidades genuínas do indivíduo”. (Perls, 1977, p.19).

A Gestalt-Terapia é considerada uma terapia do contato, onde acreditamos que a todo o momento estamos em contato com o meio, e por meio deste que o funcionamento humano pode tornar-se saudável ou disfuncional. É através do contato que nos damos conta de nosso processo, e que podemos ser criativos na forma de ver o mundo e de fazer escolhas na vida.

Desta forma, no trabalho clínico, busca-se uma ampliação da consciência do indivíduo sobre seu próprio funcionamento, ou seja, uma awareness sobre como ele funciona, como se interrompe no seu processo de contato consigo e com o mundo, quais as suas tentativas para alcançar seu próprio equilíbrio, tomando suas próprias decisões e efetuando escolhas que atendam as suas reais necessidades. Desta maneira, é importante que o indivíduo assuma suas responsabilidades diante de suas escolhas, diante de sua vida. Conforme ele vai se conscientizando de suas escolhas, de seu modo de viver, é possível, então, realizar mudanças, pois acreditamos que através do contato, a mudança simplesmente ocorre.

Enfim, a Gestalt-Terapia promove novas formas de olhar para a vida, onde nada é definitivo, existem sempre possibilidades a serem exploradas, escolhas novas a serem feitas. A aceitação genuína de nossa forma de funcionar, nos permite enfrentar as situações com mais criatividade e mais leveza, com a certeza de que sempre fazemos o melhor naquele momento.

“Gestalt-Terapia, embora formalmente apresentada como um tipo de psicoterapia, é baseada em princípios que são considerados como uma forma saudável de vida. Em outras palavras, é primeiro uma filosofia de vida, uma forma de ser, e com base nisto, há maneiras de aplicar este conhecimento de forma que outras pessoas possam beneficiar-se dele. Gestalt-Terapia é a organização prática da filosofia da Gestalt. Felizmente o gestalt-terapeuta é antes identificado por quem ele é como pessoa, do que pelo que é ou faz.” (Perls, op.cit, p. 14).

Próximo texto, descreverei sobre as ultimas Abordagens do Grupo II: Psicoterapia Experiencial e a Abordagem Transpessoal. 
  
Rodrigo Lupes

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Série de Textos: Psicoterapias


Texto 5:

Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte II

As abordagens podem ser classificadas em três grandes grupos, a partir de seus entendimentos de mundo e de homem, o que resultará em demarcações de objetos próprios de trabalho e técnicas específicas dentro de cada grupo. Já citei uma abordagem do Grupo I no texto 4 e nesse falarei do Grupo II no qual pertencem as abordagens com foco sobre a experiência e sobre a existência, estabelecendo dois subgrupos: as Fenomenológica/Existenciais e as Humanistas.

No Subgrupo Fenomenológico/Existenciais:

ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL

As pessoas experimentam o mundo de forma diferente e única. Por mais que procuremos encontrar uma correlação, por menor que seja, que nos surpreenda com a possibilidade de vivenciarmos algo idêntico ao outro, nos decepcionamos, pois as percepções continuarão únicas. Esta sensação pode nos trazer a experiência de que estamos sós, porém, pode também, contribuir em perceber o universo de possibilidades que o ato de viver nos presenteia.

Fenomenologia existencial é uma forma de se pensar o mundo, surgida na filosofia. Não se tem somente uma pessoa responsável por tal pensamento. É um movimento que foi surgindo na Europa, sobretudo após as grandes guerras, havendo vários pensadores que contribuíram na edificação da mesma.

Como fenomenologia entende-se o processo de se perceber o fenômeno tal como ele se apresenta e seus fundamentos. Para tanto existe a predisposição de se retirar dos fenômenos, todo e qualquer expectativa que o observador possa ter acerca do mesmo, bem como todas as interpretações, estudos e pré-conceitos acerca do fenômeno que surge. É possibilitar que o ser surja e mostre-se como realmente é.

Existencial é a forma de perceber o humano através da sua própria existência. Temos uma concepção de pensar formulada pelo pensamento judaico/cristão, onde parte-se do princípio que a essência precede a existência. Isto é, parte-se do pressuposto que o ser humano e a sua alma sejam pré-concebidas como surgidas já na sua magnitude, e completa. Acredita-se que a essência é completa e nata. Assim, a existência é decorrência desta essência e que a experiência da existência não a complementa ou a constrói.

Na visão existencial, a percepção é de que a essência não é nata e que o ser humano, o indivíduo, a pessoa, se constrói a partir de sua existência, de suas escolhas e das consequências do seu existir.

Nesta forma de pensar, o homem é o responsável pelo seu destino, destino este que ocorre como consequência de escolhas na construção de si mesmo.

O paradoxo torna-se a identidade do sujeito, sendo a angústia o sentimento que permeia as escolhas, pois nos tornamos “culpados” ao decidir em extinguir o que não foi escolhido, e responsáveis pelas consequências. O que nos torna livres, porém, não somos livres em não escolher sermos livres. Aqui Sartre diz que “somos condenados à liberdade”.

Psicoterapia Fenomenológico-Existencial é uma terapia na qual o paciente reflete sobre suas atitudes, sua própria fala, participa ativamente do processo de atendimento, buscando e encontrando maneiras de relacionar-se consigo e com o mundo de forma mais agradável e menos sofrida. Percebe as suas qualidades, seu potencial individual e suas formas de modificar e viver diante desse mundo, valorizando assim sua existência.

Ouvir a angústia do outro não em forma de cura e remoção de sintomas, mas ouvir e compreender o sentimento e sofrimento do outro. O terapeuta tem a postura de fazer com que o paciente entre em contato com suas angustias e sofrimento, dando um sentido, significado e esclarecimento desses sentimentos, focando na vontade de constantes mudanças, sair ou amenizar esse sofrimento, entender o que realmente está sentindo e a relação com sua existência no mundo e em si mesmo.

No atendimento o paciente se vê como sendo compreendido por outra pessoa igual e ele, mesmo que este seja seu terapeuta, inicia um diálogo que vai além de uma interpretação, testes e observações psicológicas, pois o terapeuta escuta de forma que se sensibiliza com o sofrimento ou queixa do outro, quando isso ocorre o paciente sente-se ouvido por completo, é como se o terapeuta entendesse realmente o tamanho de sua angústia e sofrimento.

Assim a principal diferença da psicoterapia fenomenológica existencial é compreender e perceber que os problemas, sofrimentos e angústia do outro tem coisas comum com o meu próprio mundo, assim ao ouvi-lo podemos realizar questionamentos de nosso próprio mundo aproximando-se assim de uma maior compreensão do mundo e da angústia do outro.

Tem como foco o cuidado com a existência do outro, fazer com que o paciente perceba a importância de sua existência, de sua liberdade, bem como da sua identidade, ser único que tem criatividade e diversas formas e caminhos de enfrentar e viver a vida. Compreender-se como homem, um ser do mundo, que tem sua individualidade e coletividade diante de suas relações com os outros.

Nos textos a seguir descreverei mais abordagens do grupo II

Rodrigo Lupes

Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

segunda-feira, 31 de outubro de 2016













Série de Textos: Psicoterapias

Texto 4: 
Conhecendo algumas Abordagens de Psicoterapia – Parte I

As abordagens podem ser classificadas em três grandes grupos, a partir de seus entendimentos de mundo e de homem, o que resultará em demarcações de objetos próprios de trabalho e técnicas específicas dentro de cada grupo:

Grupo I: Estão as abordagens que centralizam a técnica no comportamento. Estabelecem aqui as abordagens de orientação Behaviorista, que têm como fundamento filosófico o neo-positivismo.

Grupo II: Pertencem as abordagens com foco sobre a experiência e sobre a existência, estabelecendo dois subgrupos: as abordagens Fenomenológico/Existenciais e as Humanistas. No primeiro temos a Análise Existencial, de Medard Boss e Ludwig Binswanger e a Psiquiatria Fenomenológica, de K. Jaspers, E. Minkowsky, J. H. Van den Berg e outros. No segundo subgrupo encontra-se a Psicoterapia Centrada no Cliente, de Carl R. Rogers; a Gestalt-Terapia, de Fritz Perls; a Psicoterapia Experiencial; de Eugene Gendlin e a Psicologia Transpessoal, de Abraham Maslow.

Grupo III: abordagens com enfoque sobre o inconsciente e sobre a linguagem – as Psicanalíticas: a Psicanálise freudiana e as resultantes de suas transformações e re-leituras, como as procedidas por Adler, Jung, H. H. Sullivan, Karen Horney, Melanie Klein, Jacques Lacan, etc.

Do grupo I, descreverei sobre as terapias de inspiração Behaviorista.


AS ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS

 Têm como meta a modificação de comportamentos. Para os Behavioristas, o homem é um organismo que se comporta, é um conjunto de ações determinadas ou forjadas pelas contingências ambientais, via reforçamento, punição, extinção, condicionamento, etc. Ele é fruto do seu meio, um ser passivo, um produto do mundo, governado e sujeito às mesmas leis que regem os demais fenômenos naturais; ele não é um ser à parte da natureza. Esse pensamento é a raiz dos trabalhos e pesquisas com pequenos animais nos laboratórios de Psicologia que, entendida, então, como Ciência Natural, pode utilizar os mesmos métodos de estudo que empregam a Física, a Química, a Biologia, etc. O objetivo de modificação dos comportamentos considerados inadaptados é alcançado através da mudança nas contingências externas, responsáveis pela manutenção dos mesmos.

Para o Behaviorismo, a queixa do cliente é o problema a ser trabalhado e o terapeuta deverá recrutar recursos técnicos para resolvê-lo, para eliminá-lo, via modificação do comportamento problemático. Podemos citar como exemplo o seguinte: o cliente estaria apresentando um comportamento depressivo e na terapia procuraria investigar e determinar as contingências de reforçamento que o estivessem mantendo, para tentar eliminá-las, extinguindo o comportamento em questão. Um outro comportamento, considerado apropriado àquela situação de estímulos que antes mantinha a depressão seria, então, instalado, reforçado, fortalecido.

As Abordagens Comportamentais podem ser indicadas e úteis para tratar praticamente todos os problemas de saúde e de comportamento de atuação do psiquiatra ou do psicoterapeuta, como:

- Fobias específicas;
- Agorafobia com ou sem pânico;
- Fobia social;
- Transtornos de ansiedade;
- Transtorno obsessivo-compulsivo;
- Disfunções sexuais: em especial ejaculação precoce e vaginismo;
- Dificuldade de relacionamento interpessoal;
- Reabilitação de doentes crônicos;
- Depressão;
- Transtornos alimentares;
- Problemas de comportamento na infância;
- Problemas de comportamento na adolescência;
- Abuso de dependência de álcool e drogas;
- Autoconhecimento.

No caso do autoconhecimento, o terapeuta auxilia o paciente a explicitar as variáveis que influenciam seu comportamento, podendo a partir disso, auxiliar a pessoa a modificar seu ambiente para que possam ocorrer mudanças no seu comportamento, ou seja, autocontrole.

Nos textos a seguir descreverei mais abordagens dos grupos citados.

Bom estudo!

Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

sábado, 22 de outubro de 2016


Série de Textos: Psicoterapias
Texto 3:
Na Escolha de um Psicoterapeuta qual Abordagem de Psicoterapia é a Melhor?

Muitas pessoas passam por dois ou três profissionais de psicologia/psicoterapia antes de definirem com qual terapeuta realizarão seu tratamento. Costumam comentar com amigos que não se “adaptaram” à maneira de trabalho deles. Isso ocorre porque grande parte das pessoas desconhece que existam diferentes abordagens terapêuticas, e, assim, não buscam os profissionais adequados. E qual é a melhor Abordagem Terapêutica para você?

A área da Psicologia Clínica abarca mais de 200 tipos de psicoterapia, algumas linhas são consideradas as principais. Psicólogos geralmente recorrerão a uma ou mais destas Abordagens como manejo clínico. Cada perspectiva teórica e técnica (ou abordagem) funciona como um roteiro para ajudar o psicólogo entender seus clientes e os seus problemas, e trabalhar soluções.

O tipo de acompanhamento que você receberá vai depender de uma série de fatores, desde sua História de Vida Pessoal, História Familiar, Suportes Internos, Capacidade de Compreensão e Assimilação, mas também da Orientação Teórica (chamada de Abordagem Teórica) de seu psicólogo e do que funciona melhor para o seu caso.

A Abordagem Psicoterápica é uma maneira de o profissional ler e compreender o indivíduo e seu meio. Todas são eficazes no tratamento dos diversos aspectos da psique e do comportamento humano. Não há Abordagem Teórica melhor ou pior, elas são apenas diferentes e se adequam melhor para determinados conflitos e ou outros. Mas todas possibilitam o mesmo fim: a saúde psíquica e emocional do indivíduo e uma melhor qualidade de vida.

A melhor Abordagem Terapêutica para você é aquela que faz você se sentir mais à vontade no tratamento, mais seguro e confiante, além do que ela possa oferecer o recurso técnico apropriado à resolução do conflito apresentado. 

Faz necessário, antes de escolher seu psicoterapeuta, pesquisar sobre algumas Abordagens de Psicoterapia e suas indicações, a fim de compreender se aquela abordagem atende o objetivo no qual você está buscando. No texto 4, vamos falar de algumas abordagens psicoterápicas.

Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

sábado, 15 de outubro de 2016

 Série de Textos: Psicoterapias

Texto 2: 
Qual a diferença entre Psicólogo, Psicoterapeuta, Terapeuta Holístico, Psicanalista e Psiquiatra? 

Às vezes certa confusão é gerada sobre o termo “psi”, comumente falado pelas pessoas e que se refere ao psicólogo, psiquiatra e ao psicanalista. Mas qual a diferença entre esses três profissionais e mais o terapeuta holístico?

O psicólogo faz a formação superior em Psicologia que é uma ciência que estuda os processos mentais, tais como: sentimentos, pensamentos, memória, atenção, inteligência, o comportamento humano e sua subjetividade.

Dentre as atribuições do psicólogo, o Psicodiagnóstico e a Psicoterapia devem ser feitos por psicólogos. Ressalto que alguns psiquiatras também fazem cursos em Abordagens de Psicoterapia como é o caso da Terapia Cognitiva Comportamental, no qual, agregam mais conhecimentos na área comportamental e cognitiva de seus pacientes.

A Psicoterapia como já vimos no texto 1, é um método de tratamento de problemas psicológicos e emocionais baseado no conhecimento científico do funcionamento psicológico. É uma prática que está dentro da Psicologia Clínica. Envolve conhecimento da Psicopatologia e da Psicologia do Desenvolvimento.

Terapia Holística é o nome dado às terapias que seguem os princípios do holismo. Ou seja: que aborda o problema a ser tratado como um todo, não através de uma visão fragmentada do real. As funções profissionais do Terapeuta Holístico devem, necessariamente, conter nas ações de atendimento, a promoção do auto-conhecimento e a busca do equilíbrio energético, sempre dentro do paradigma holístico, promovendo a qualidade de vida através das diversas técnicas das terapias holísticas ou naturais, evitando-se qualquer termo ou duplicidade de entendimento que sejam específicos de atividades médicas ou de outros profissionais de saúde. Os Terapeutas Holísticos não são psicoterapeutas, não é necessário fazer uma formação superior em psicologia.

O psicanalista é o profissional que possui uma formação em Psicanálise, Método Terapêutico criado pelo médico austríaco Sigmund Freud, que consiste na interpretação dos Conteúdos Inconscientes de palavras, ações e produções imaginárias de uma pessoa, baseada na técnica denominada por Freud de Associações Livre e na Transferência. Segundo a instituição formadora, o psicanalista pode ter formação em diferentes áreas de ensino superior.

O psiquiatra é um profissional da medicina que após ter concluído sua formação, opta pela especialização em Psiquiatria. Esta é realizada em 2 ou 3 anos e abrange estudos em Neurologia, Psicofarmacologia, tendo por objetivo tratar as Patologias Mentais. Ele é apto a prescrever medicamentos, habilidade não designada ao psicólogo e ao psicoterapeuta. Em alguns casos, a Psicoterapia e o Tratamento Psiquiátrico devem ser aliados.

Entendendo essas diferenças de atuações profissionais, voltamos ao objetivo do blog que abrange temáticas da Psicologia Clínica e da Psicoterapia e ao objetivo dessa série de textos.  E uma pergunta surge: na escolha de um psicoterapeuta, qual abordagem de psicoterapia eu devo procurar? Esse será o nosso tema do texto 03.

Rodrigo Lupes
Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta